A localização e os concorrentes da bodega
Bodegas abrem. Bodegas fecham. E a lei de oferta e demanda impõe seu próprio compasso em todos os casos.
Sem o mínimo engano, entretanto, uma coisa em especial influencia a expansão de seu comércio: a localização e a quantidade de concorrentes. São duas pecas-chave que podem matar ou fazer crescer sua criação. Não as menospreze, pois embora parte do negócio seja seu trabalho, outra parte óbvia é a necessidade dos clientes de recorrer a ele.
Um caso para ilustrar: no caminho de meu trabalho, desde a decida do ônibus até chegar ao escritório, encontro dois grandes supermercados, separados por duas quadras de distância. Especialmente este último, tem ampla capacidade de abastecer as pessoas num raio de quilômetros com mercadorias frescas e baratas. Imaginem só que um vizinho, que possui um bar e uma pequena casa de materiais de construção, achou que seria interessante tomar a parte debaixo de um prédio seu, há quatro casas desse grande supermercado, e abrir uma mercearia lá, muito bem organizadinha por sinal. Empregou seus filhos na empresa e sua política de preços em nada destoava para baixo do que praticava o grande supermercado. De diferente, penso que apenas uns docinhos (mesmo assim, existe uma bombonière mais cinco casas depois, muito bem estabelecida, obrigado!).
Ele não fez um estudo de mercado cuidadoso. Não fez um plano de negócios. Não tinha uma ideia que resistisse a qualquer objeção. Tinha concorrentes sérios e bem estabelecidos, ainda que sua localização fosse muito boa em termos práticos. A única inovação que eventualmente poderia fazer, que seria uma prática agressiva de horários e, talvez, uma segmentação forte com preços arrasadores, ele não fez.
O que o leitor acha que aconteceu há duas semanas? O negócio fechou, evidentemente, virando estatística.
Considere, assim, que essas duas variáveis são graves na sua decisão e que se forem mal calculadas ou propositalmente ignoradas, poderão trazer sérios prejuízos para seu investimento.
A localização deve ser, quase sempre, em algum lugar com trânsito razoável de pessoas (a não ser, em determinadas circunstâncias, que não haja concorrentes diretos num raio de quilômetros), atendendo ao fato que você fisgará uma necessidade imediata de algum freguês ou poderá criar uma necessidade com oferta de alimentos atrativos. A máxima de que ninguém passa fome ou sede sem se desesperar é a verdade mais dura e mais doce para um merceeiro. Ninguém vai andar uma distância gigantesca para comprar uma ou duas coisas se pode encontrá-las no vizinho ao lado, ainda que uns centavos mais caros do que na concorrência. Impera a lei da proporção nesses casos: pagarei minha viagem comprando lá longe, onde Judas se perdeu, ou não? Você, como merceeiro, está ali pertinho justamente para quebrar o galho destas pessoas que moram ao seu redor.
Outra premissa nasce dessa observação. Quantos concorrentes há perto de meu estabelecimento e quais são seus portes. A lógica é de subtração, sendo: quanto menos, melhor. Em caso de existir baixa concorrência, ótimo, pois há espaço para crescer sem muitos riscos. Em caso de média concorrência, o merceeiro deverá se focar numa operação enxuta, variedade de produtos esmagadora e nos pontos fracos da concorrência (atendimento, artigos que não vende, créditos de celular, o que sua imaginação encontrar de viável). Em caso de alta concorrência: faça um estudo sério e honesto e não hesite em mudar o modelo de negócios, apostando realmente se tiver cara, coragem e dinheiro sobrando.
Não é necessário que seu comércio seja inimigo: se não tiver um artigo, recomende o concorrente com afabilidade sempre. Uma ora ele saberá e fará o mesmo com por você. Seja civilizado, cumprimente, não inspecione a mercearia inimiga em busca de guerra de preços. Seja honesto e generoso que tudo dará certo.
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