Vales, cadernetas e promissórias



A bodega é reverenciada pela facilidade de pagamento conferida ao freguês amigo: sem validade para encerramento da dívida (com o bom senso determinando a quitação dos valores), renegociação de acordo com necessidade, possibilidade de compra a partir do uso do nome do cliente (de forma remota, por telefone, p. ex.), pagamento por cheque, acertos graduais no montante, inexistência de juros e/ou mora, crédito em suma bastante facilitado.

Mas, será mesmo assim?

Diante do andar da carruagem e com base na experiência acumulada, podemos afirmar que as coisas mudaram radicalmente. E a boa e velha caderneta, que em alguns lugares é um caderninho caprichado, enquanto n'outros assume a forma de um aglomerado de retângulos de papel (ou fichas verticalizadas, com saídas e entradas), está sendo aposentada em favor dos cartões de débito ou crédito ou de outras variantes mais recentes, a exemplo dos pagamentos por transferência eletrônica via aplicativos financeiros de smartphones. E, veja bem: não cometa a estupidez de ignorar isso, pois não é mais tendência, porém fato consumado. A não ser que sua mercearia lide majoritariamente com cachaceiros -- sem ofensa --, considere isso com seriedade.

A vantagem de se manter o caderno ou os talões de fichas apenas se apresenta para clientes com faixa etária superior a cinquenta anos, pois a faixa etária inferior claramente já aderiu ao uso de cartões, que neste caso serve como medida de crédito e controle financeiro familiar. Nem falo aqui de honradez, já que a sem-vergonhice deixou de ter idade. O cartão mais do que nunca trouxe o potencial de gerir os gastos mensais em função de "x" limite imposto pela administradora do cartão ou pelo salário da conta bancária a ser descontado o devido débito.

Tenha máxima atenção, também, para a fama pública dos que desejam aderir à caderneta (desconfie bastante de aproveitadores que esperam o momento de segurar a sacola para dizer um "depois acertamos, certo?"), pois, a exemplo do que já falou o experiente merceeiro da Paraopeba, uma das mais antigas instituições ativas no ramo, "nota-se que hoje há muitos aventureiros, acostumados a comprar e não pagar." Esse vício, infelizmente, é produto do mesmo cartão de crédito, que auxiliou tantas famílias a progredirem com crédito de curto prazo.

E a promissória? Por mais que seja utilizada com frequência em armarinhos, é uma ótima forma de diminuir a possibilidade de calotes em mercearias, vez que demanda a assinatura do cliente, a inserção de seus dados básicos e a descrição clara do valor transacionado. Tudo pode servir de prova em uma contenda judicial simples, aí mesmo no Fórum de Pequenas Causas; afora o fato de que sua aceitação é ampla e não representa perigo na confiança do comprador. Porém, ao contrário do caderno, a promissória não acumula entradas e saídas frequentes, mas só valores finalizados, o que dificulta a fidelização do cliente diante desta burocracia.
Sobre a aceitação de cheques, desnecessário dizer que, atualmente, é um meio seguro de transação, ainda que em franco desuso. A criação de um cadastro de emitentes (delinquentes?) insolúveis tornou a emissão do cheque um ato mais responsável, sem contar as medidas anti-falsificação que vieram atender à necessidade de notas de crédito confiáveis para o câmbio de valores no comércio.

O que aconselhamos, então?

Seja flexível com o que existe para ajudar o seu comércio, como o cartão de crédito e congêneres, pois embora cobrem uma percentagem, há margem de negociação neste sentido e o dinheiro cai em sua conta em data programada. Fraudes? Quase zero, a depender da população que o cerca. Se estiver bem estabelecido, abra a possibilidade do fiado para clientes preferenciais (não aconselhamos fazê-lo antes disso). Dê um desconto, ou o famoso "choro", para os clientes que pagarem à vista, considerando a percentagem perdida se a compra eventualmente fosse feita via cartão de crédito (em torno de 5%). Por fim, aconselhamos que os merceeiros ousem e aceitem os meios de pagamento mais avançados, como Picpay, pois isso agrega valor junto à nova geração de fregueses. E não esqueça de sempre cortar custos, pesquisando as melhores máquinas de cartão com os melhores prazos de repasses; neste particular, aconselhando-lhes a maquineta do PagSeguro.

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