Miguel não está mais lá
Quando ligo para minha mãe, em meados do ano passado de 2019, ela insiste para que eu ligue para vovô. Ele está baquiado , meio doentinho, ficando velho. Oitenta e nove anos pesando, né? Digo para ela que vou ligar, mas nem confio que ele esteja mal, por conta da insistência dos nordestinos em exagerar as coisas, nem consigo realmente parar por conta de tanto acúmulo de trabalho: construindo a casa, cumprindo com deveres religiosos, com o primeiro filho, tocando uma editora, sendo professor e gerenciando uma empresa de café especial com mais três sócios. Era demais para mim. Chega maio e minha mãe fala que meu avô piora e tem de ser hospitalizado. Acho que ainda é caso dele voltar para casa e durar mais alguns anos. Mas não. Vovô só piora. Vou acompanhando, até que um dia, quando na empresa de café marcamos uma reunião bem cedo com representantes do Rio de Janeiro, mato uma aula da escola com um dia de licença que tinha sobrando e aviamos a reunião. Pelo alto das nove da manhã, mi...